Deus
Franz Bardon
Desde os tempos primordiais o homem acreditou em algo superior, transcendental, algo que ele pudesse divinizar, não importando que fosse uma idéia personificada ou não de Deus. Aquilo que o homem não conseguia assimilar ou compreender ele atribuía a um poder superior, conforme a sua concepção. Desse modo é que surgiram as divindades dos povos, tanto as boas quanto as más (demônios). Assim, ao longo do tempo, foram adorados deuses, anjos, demiurgos, demônios e espíritos, correspondentes às mentalidades dos povos em questão, sem que fosse levado em conta o fato de terem vivido efetivamente ou só na imaginação das pessoas. Quanto mais se desenvolvia intelectualmente a humanidade, tanto menos as pessoas procuravam imagens divinas, principalmente quando, com ajuda da ciência, foram sendo explicados muitos fenômenos antigamente atribuídos aos deuses. Precisaríamos escrever muitas obras se quiséssemos entrar nos detalhes das diversas idéias de Deus na história dos povos.
Aqui porém estudaremos a idéia de Deus do ponto de vista do mago. Para o homem comum a idéia de Deus serve como um ponto de apoio ou um suporte para o seu espírito, para que este não permaneça no desconhecido, ou não se perca nele. Para ele esse Deus é incompreensível, abstrato e inimaginável. Mas para o mago as coisas não são desse modo; ele conhece o seu Deus sob todos os aspectos. E não é só porque dedica a essa divindade toda a veneração, pois sabe que foi criado à sua imagem, portanto é parte dela, mas também porque seu maior ideal, seu maior dever a seu objetivo mais sagrado é tornar-se uno com ela, tornar-se um homem-deus. A ascensão a esse objetivo sublime será descrita adiante.
A síntese da união com Deus consiste em desenvolver as idéias divinas desde os patamares mais baixos até os mais elevados, até que se consiga a unificação com o Universal. Nesse processo, fica a critério de cada um renunciar à sua própria individualidade ou conservá-la. Os grandes mestres que chegaram lá geralmente voltam à Terra com uma determinada tarefa ou missão sagrada.
Nessa ascensão, ou elevação, o mago iniciado é também um místico. Só na unificação, caso ele queira renunciar à sua individualidade, é que ele se desintegra voluntariamente, o que na terminologia mística é definido como morte mística.
Como podemos ver, na verdadeira iniciação não existe uma senda mística, a também nenhuma mágica. Existe somente uma única iniciação verdadeira que liga ambos os conceitos, em contraposição à maioria das escolas místicas e espiritualistas que se ocupam de imediato dos problemas mais elevados através da meditação ou outros exercícios espirituais, sem antes terem trabalhado os patamares inferiores. É exatamente como alguém que quer começar com os estudos universitários sem antes ter passado pelos cursos elementares. Em muitos casos as conseqüências de uma instrução tão unilateral podem ser muito graves, e às vezes até drásticas, dependendo do grau de envolvimento de cada um.
Muitas vezes o erro pode ser encontrado no fato de que grande parte do material provém do Oriente, onde o mundo material e astral é encarado como "maya" (ilusão) e quase não é considerado. Não é possível aqui entrar em detalhes, pois esse tema extrapolaria os limites desta obra. Num desenvolvimento adequadamente planejado e escalonado, não há desvios nem fracassos, nem conseqüências graves, pois o amadurecimento é lento e gradual, mas seguro. Se o iniciado escolhe Cristo, Buda, Brahma, A1á ou outro qualquer como seu conceito de divindade, é uma questão individual; no caso da iniciação o que importa é a idéia em si. O místico puro vai querer nutrir-se somente no amor abrangente de seu Deus. Geralmente o iogue também segue só um aspecto divino: o Bhakti Iogue segue o caminho do amor e da doação; o Raja e o Hatha Iogue seguem o caminho do domínio e da vontade, o Jnana Iogue segue o caminho da sabedoria e da compreensão.
Se encararmos a idéia de Deus do ponto de vista mágico, relativamente aos quatro elementos, o assim chamado Tetragrammaton, o Inexprimível, o Superior, teremos: ao princípio do fogo, corresponde o poder supremo, a força suprema; ao princípio primordial do ar e sabedoria, a pureza e a clareza, de cujos aspectos sobressai a regulação universal; ao princípio primordial da água corresponde o amor e a vida eterna, e ao princípio primordial da terra o onipresente, a imortalidade, e com ela a eternidade.
Juntos, esses quatro aspectos formam a divindade superior. O caminho em direção a essa divindade superior será por nós trilhado na prática, gradualmente, começando na esfera mais baixa, até alcançarmos a verdadeira concretização de Deus em nós. Feliz é aquele que a alcança ainda nessa vida. Ninguém deve temer todo esse esforço, pois todos podem alcançar esse objetivo, pelo menos uma vez na vida.
FONTE: Magia Prática: Iniciação ao Hermetismo - O caminho para tornar-se um verdadeiro Adepto, de Franz Bardon
Nenhum comentário:
Postar um comentário