domingo, 14 de agosto de 2011

O que você é, o mundo é - Jiddu Krishnamurti

Trechos do livro O que você está fazendo com a sua vida?, de Jiddu Krishnamurti.



O que você é, o mundo é
Qual é o relacionamento entre você e a infelicidade e a confusão que existem em seu íntimo e à sua volta? Essa confusão, essa infelicidade, certamente não se criaram sozinhas. Fomos você e eu que a criamos, não a sociedade, mas você e eu, em nosso relacionamento um com o outro. O que você é por dentro projeta-se para fora, para o mundo. Tudo o que você é, o que pensa, o que sente, o que faz em sua vida diária, é projetado para fora, e é disso que o mundo é constituído. Se somos infelizes, confusos, intimamente caóticos, através de projeção isso se torna o mundo, a sociedade, porque o relacionamento entre mim e você, entre um e outro, é a sociedade - a sociedade é produto de nosso relacionamento -, e se nosso relacionamento é confuso, egocêntrico, estreito, limitado, patriótico, projetamos isso e trazemos o caos para o mundo.
O que você é, o mundo é. Então, seu problema é o problema do mundo. Este é um fato simples e básico, não é? Em nosso relacionamento com um ou com muitos parece que, de alguma forma, ignoramos isso o tempo todo. Queremos fazer alterações através de um sistema ou de uma revolução de ideias e valores baseados em um sistema, esquecendo que somos você e eu que, pelo modo como vivemos, criamos a sociedade, causamos confusão ou ordem. Assim, precisamos começar pelo que está perto, isto é, devemos nos preocupar com nossa existência diária, nossos pensamentos, sentimentos e ações diários, que se revelam na maneira como ganhamos a vida e em nosso relacionamento com ideias ou crenças.


Sua luta é a luta humana
Uma revolução completa e enriquecedora não pode acontecer a menos que você e eu compreendamos a nós mesmos como um processo total. Você e eu não somos indivíduos isolados, mas o resultado de toda a luta humana, com sua ilusões, fantasias, buscas, contendas, ignorância e infelicidade. Não podemos começar a alterar a situação do mundo sem a compreensão de nós mesmos. Quando você entende isso, acontece em seu íntimo uma revolução imediata e completa. Então, não há necessidade de nenhum guru, porque o conhecimento de si mesmo vem de momento a momento, não é o acúmulo de coisas que você ouviu dizer, nem está contido nos preceitos de mestres religiosos. Como você está descobrindo a si mesmo no relacionamento com um outro, de momento a momento, esse relacionamento ganha um significado completamente diferente. O relacionamento, então, é uma revelação, um constante processo de descoberta de si mesmo, e com essa autodescoberta vem a ação.
Portanto, o conhecimento de si mesmo só pode vir através do relacionamento, não do isolamento. Relacionamento é ação, e autoconhecimento é o resultado da atenção em ação.


Transforme-se e transformará o mundo
A transformação do mundo resulta da transforamação de si mesmo, pois o ego é oproduto e parte do processo total da existência humana. Para transformar a si mesmo, o autoconhecimento é essencial, sem saber o que se é, não há base para o pensamento correto, e sem conhecer a si mesmo, não pode haver transformação.


Por que mudar já?
Não há grande diferença entre os velhos e os jovens, pois ambos são escravos de seus desejos e alegrias. Maturidade não depende de idade, vem com o entendimento. O ardente espírito inquiridor talvez seja mais fácil para os jovens, porque os mais velhos já foram maltratados pela vida, os conflitos deixaram-nos exaustos, e a morte, em diversas formas, está à sua espera. Isso não significa que os velhos não sejam capazes de fazer indagações úteis, mas apenas que é mais dificíl para eles. Muitos adultos são imaturos e bastante infantis, e isso é uma das causas da confusão e infelicidade que há no mundo. Os mais velhos são os responsáveis pela crise moral e econômica dominante, e uma de nossas mais tristes fraquezas é a de querermos que outras pessoas ajam por nós e mudem o curso de nossas vidas. Esperamos que outros se revoltem e reconstruam, e permanecemos inativos até termos certeza do resultado. O que mais buscamos é segurança e sucesso, e uma mente que busca segurança, que deseja sucesso, não é inteligente, portanto, é incapaz de ação integrada. Só pode haver ação integrada se cada um de nós estiver consciente de seu próprio condicionamento, de seus próprios preconceitos raciais, políticos e religiosos, isto é, apenas se percebermos que o ego é sempre separador.
A vida é um poço de águas profundas. Pode-se ir até ele com pequenos baldes e tirar só um pouquinho de água ou chegar com grandes vasilhas e tirar grande quantidade de água, que nutrirá e sustentará. O tempo de investigar, de experimentar tudo, é enquanto se é jovem. A escola deveria ajudar os jovens a descobrir sua vocação e suas responsabilidades, não meramente entulhar suas mentes com fatos e conhecimento técnico. Deveria ser o solo no qual eles pudessem crescer sem medo, com alegria e integralmente.


Paz e bem a todos,
Clau

2 comentários:

  1. Oi, Cláudia
    Gostei dos seus comentários sobre o meu livro.
    Como voce observou, escrevi em 1999.
    Bem, escrevi e depois praticamente esqueci...
    Abraços fraternais.
    José Mauro de Araújo Machado

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  2. Olá, José Mauro.
    Obrigada por seu comentário, realmente seu livro é muito interessante e achei aquele capítulo muito pertinente ao momento que passamos atualmente, mostrando que seu texto, mesmo sendo de 1999, é muito atual.
    Se quiser compartilhar algo, sinta-se a vontade.

    Abraço fraterno,
    Claudia

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